O presidente do Instituto Combustível Legal (ICL), Emerson Kapaz, afirmou que as conexões do setor de combustível com o crime organizado são amplas e vão “do poço ao posto”. Em entrevista à coluna na sexta-feira (30/8), Kapaz comemorou a decisão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que suspendeu a licença da Copape, investigada no Ministério Público de São Paulo por irregularidades e supostas ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
“Começamos a identificar conexões que vão do poço ao posto, passando por distribuidoras, formuladoras, postos de combustível, empresas de transporte, empresas de maquininha de cartão de crédito. O Ministério Público de São Paulo mostra a conexão da Copape com o PCC”, afirmou Kapaz. As apurações do MP foram citadas pela ANP quando suspendeu as atividades da Copape no fim de julho.
Em nota, a Copape negou qualquer relação com o PCC. “É uma estratégia de assassinato de reputações, que vem sendo bem-sucedida pela repetição inadvertida e irresponsável das mentiras”, afirmou a empresa.
Leia os principais trechos da entrevista.
O que se sabe sobre a ligação da Copape com o PCC?
O Ministério Público de São Paulo fala dessa conexão da Copape com o PCC. A Copape é investigada há muito tempo no MP. O processo tramita na Justiça por anos e a empresa continua operando por meio de decisões judiciais. Com base nessa investigação, a ANP tomou uma decisão inédita e suspendeu a licença de funcionamento da Copape. A Copape recorreu à Justiça, mas já perdeu umas cinco ou seis vezes. A decisão da ANP está mantida.
Como funciona essa rede de crimes?
Começamos a identificar conexões que vão do poço ao posto, passando por distribuidoras, formuladoras, postos de combustível, empresas de transporte, empresas de maquininha de cartão de crédito. A Copape é uma formuladora, ou seja, transforma nafta em gasolina. O ICL busca combater todas as irregularidades no setor: sonegação, fraude operacional, adulteração de combustível, tudo o que afeta a concorrência. É um dos setores que mais arrecada no país, com R$ 150 bilhões anuais, dos quais R$ 29 bilhões são perdidos com ilegalidades.
Qual é o tamanho estimado do PCC no setor de combustíveis?
O crime organizado quer sempre trabalhar às sombras. Fala-se em mil postos do PCC no Brasil. É muito difícil dizer. São laranjas que operam os postos. Você não acha quem é o dono, não tem o nome de uma pessoa, tem o CNPJ atrás de um fundo offshore. Uma pesquisa recente da Vibra, ex-BR Distribuidora, e da consultoria McKinsey mostrou que 13 bilhões de litros são perdidos por ano com irregularidades no país. A dimensão é preocupante. Dá uma massa financeira para operacionalizar tudo à margem da lei.
Como identificar um posto que contribui para a rede do crime?
Se você vê o posto com uma oferta miraculosa, cuidado. Alguma coisa tem. E é comum o carro ficar parado na rua depois, por adulteração de combustíveis. Veja: o cara trabalha sério num posto, e na frente dele tem um posto com gasolina com o litro R$ 1 mais barato. A margem do setor é de 3% a 5%. No máximo, a diferença pode ser até de 30 centavos. Agora, 80 centavos, R$ 1, isso não existe. Às vezes o consumidor pensa o seguinte sobre a sonegação: “Um pouquinho de tributo a menos não faz mal se eu pago barato”. Desculpa. Se você paga R$ 50 a menos para encher o tanque de gasolina, isso alimenta o crime organizado que vai te assaltar na esquina.