metrópoles Luiz Vassallo
atualizado
São Paulo – Implicado pela delação do ex-PM Ronnie Lessa no assassinato da vereadora Marielle Franco, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão sempre prezou, de acordo com investigações da Polícia Federal (PF), por estratégias para não ser gravado ou grampeado por rivais e investigadores.
Em relação ao caso Marielle, Brazão negou, em entrevista ao Metrópoles nessa terça-feira (23/1), as acusações que ligam seu nome ao crime e disse que a denúncia pode ser parte de uma estratégia dos verdadeiros assassinos para proteger alguém.
Alvo de outras apurações, Brazão sempre foi cauteloso. Segundo a PF, agentes localizaram em seu gabinete, em 2017, um embaralhador de sinal. O equipamento foi apreendido e chamou a atenção dos investigadores.
“Supostamente utilizado para embaralhar/interferir em equipamentos que emitam sinais eletromagnéticos, como, por exemplo, telefones celulares, dispositivos ocultos de escuta ambiental, impossibilitando a transmissão de diálogos travados no ambiente”, anotou a PF, no documento lavrado para registrar a apreensão.
Na ocasião, Brazão foi preso temporariamente e acabou solto. A Operação Quinto do Ouro investigava o pagamento de propinas a conselheiros do Tribunal de Contas do Rio.
Troca de telefones
Ao denunciar Brazão pelos crimes de corrupção e organização criminosa, o MPF destacou que havia relatos, na investigação, de que, além de usar o embaralhador, Brazão trocava constantemente de aparelho telefônico.
Seu principal delator, o filho do ex-presidente do TCE do Rio Jonas Lopes Junior, disse que Brazão preferia receber pessoalmente dinheiro de propinas, mas fugia de reuniões pessoais sobre os acertos.
Brazão foi afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas voltou por decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele teve cinco mandatos como deputado estadual antes de ir para o TCE. Brazão ainda responde à ação penal referente à Operação Quinto do Ouro.
Caso Marielle
No caso Marielle Franco, o nome de Brazão aparece como suspeito do mando do crime desde 2019. Ele foi denunciado pela ex-procuradora-geral Raquel Dodge por embaraço à investigação. O episódio envolveu uma ação para plantar depoimentos de policiais, com narrativas falsas, que tirassem a Polícia Civil do rastro dos verdadeiros mandantes.
O indício mais impressionante sobre seu envolvimento foi encontrado em um áudio do miliciano Jorge Alberto Moreth, conhecido como “Beto Bomba”, no qual ele dizia que Brazão “encomendou” a morte de Marielle e que houve pagamento de R$ 500 mil pelo crime. O áudio foi interceptado de uma conversa entre o miliciano e o vereador Marcello Siciliano (PHS).
Boom patrimonial, propina, dinheiro vivo e Marielle: a ficha de Brazão
A principal hipótese é que, com a morte da vereadora, Brazão buscava retaliar o então deputado Marcello Freixo (à época, filiado ao PSol), que empregou Marielle em seu gabinete e era próximo da parlamentar.
A atuação de Freixo atingiu duas vezes o conselheiro. A primeira foi na condição de relator da CPI das Milícias, em 2008, quando citou Brazão como um dos políticos “liberados” para fazer campanha em área dominada pelos grupos de criminosos.
A segunda foi em 2017, quando denúncias levaram o MPF a pedir, novamente, a prisão de Brazão. Neste caso, a solicitação ocorreu no âmbito da Operação Cadeia Velha, que também investigou pagamento de propinas a políticos do Rio.
A denúncia da PGR sobre o embaraço às investigações foi rejeitada em março do ano passado pela Justiça Estadual do Rio de Janeiro. Com a delação do ex-PM Ronnie Lessa, condenado pela execução da ex-vereadora, o nome de Brazão voltou a entrar na mira dos investigadores.
Outro lado
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Domingos Brazão negou envolvimento na morte da vereadora. “Não mandei matar Marielle”, disse. Para o político, “ninguém lucrou mais com o assassinato da vereadora do que o próprio PSol”.
Brazão disse ao Metrópoles não temer a investigação e que o uso de seu nome pode ser parte de uma estratégia dos executores do crime para proteger alguém. “Outra hipótese que pode ter é a própria Polícia Federal estar fazendo um negócio desse, me fazendo sangrar aí, que eles devem ter uma linha de investigação e vão surpreender todo mundo aí.”
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