segunda-feira, 4 de março de 2024

Diretora critica livro distribuído pelo MEC que usa termos sexuais Fato repercutiu após gestora publicar um vídeo sobre o caso nas redes sociais

Paulo Moura - 04/03/2024 12h36 | atualizado em 04/03/2024 14h16

Livro O Avesso da Pele Foto: Reprodução/Print de Vídeo Janaína Venzon

Um vídeo gravado pela diretora de uma escola da cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul viralizou nas redes sociais, nos últimos dias, por trazer críticas ao conteúdo do livro O Avesso da Pele, do autor Jeferson Tenórioem razão da utilização de termos sexuais na obra. O livro faz parte do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e é enviado a escolas públicas do país de acordo com a demanda das unidades de ensino.

No vídeo em questão, a diretora Janaína Venzon cita diversos trechos do livro que trazem expressões de cunho sexual e diz ser lamentável “o governo federal mandar esse tipo de linguagem para ser trabalhado com adolescentes dentro de uma instituição de ensino”. Dentro do PNLD, a obra é voltada para estudantes do ensino médio.

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– Lamentável o governo federal, através do MEC [Ministério da Educação] adquirir esta obra literária e enviar para as escolas com vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio. Solicito ao Ministério da Educação buscar os 200 exemplares enviados para a escola. Prezamos pela educação dos nossos estudantes e não pela vulgaridade – declarou.

Após a repercussão, o autor do livro, Jeferson Tenório, fez um post em suas redes e disse que a 6ª Coordenadoria Regional de Educação do Rio Grande do Sul mandou recolher os exemplares das escolas e bibliotecas até que governo federal se manifeste. O escritor disse ainda que “as distorções e fake news são estratégias de uma extrema-direita que promove a desinformação”.

No entanto, a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul rebateu o que foi alegado por Tenório e disse que não orientou que o livro fosse retirado de bibliotecas da rede estadual de ensino.

– O uso de qualquer livro do PNLD [Programa Nacional de Livros Didáticos] deve ocorrer dentro de um contexto pedagógico, sob orientação e supervisão da equipe pedagógica e dos professores (…). A 6ª Coordenadoria Regional de Educação vai seguir a orientação da secretaria e providenciar que as escolas da região usem adequadamente os livros literários – disse a pasta.

O Ministério da Educação, por sua vez, afirmou que “a escolha das obras literárias a serem adotadas em sala de aula é feita pelos educadores de cada escola a partir de um Guia Digital onde as obras integrantes do programa estão listadas para conhecimento de professores e gestores”.

– Diferentemente do que conteúdos maliciosos estão repercutindo, como se o Ministério da Educação enviasse os livros a despeito de qualquer manifestação dos educadores pelo envio dos livros, os livros são distribuídos às escolas somente após a escolha dos profissionais de educação – disse o MEC.

Além disso, a pasta disse que o livro O Avesso da Pele foi incluído no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) por meio de portaria em 2022 depois de passar por uma seleção publicada em edital de 2019. O MEC encerrou dizendo que a “aquisição das obras se dá por meio de um chamamento público, de forma isonômica e transparente”.

DIRETORA SE PRONUNCIA APÓS REPERCUSSÃO
Após o caso chegar aos noticiários, a diretora voltou a falar sobre o assunto. Em uma nota publicada em seu perfil no Facebook, Janaína disse que a imprensa brasileira distorceu o caso e que veículos como o portal Terra, e os jornais O Globo e Folha de S.Paulo, não entraram em contato com ela para saber seu posicionamento, nem o dos pais dos alunos da escola dirigida por ela.

– Nenhuma imprensa perguntou aos pais da nossa escola qual seria a opinião sobre trabalhar com o livro no ambiente escolar. Esperamos poder ter o direito de relatar os fatos como são e não como ouviram falar com distorção – declarou.

A gestora também disse que não criticou a qualidade da obra quanto ao contexto do racismo estrutural, mas que fez questionamentos ao uso de termos impróprios que, segundo ela, “deturpam as atitudes éticas que desejamos por parte de nossos adolescentes”.

– Não é questão de censura, mas sim, de proteção da criança e adolescente a terminologias inadequadas para a idade, impróprias, do ponto de vista ético e respeitoso, [e de] civilidade, em qualquer idade – escreveu.

Sobre a escolha do livro, Janaína esclareceu que “nenhum professor, ao escolher qualquer obra, recebeu a cópia física do livro para analisar junto à coordenação pedagógica da escola”. A diretora relatou que os professores confiaram no conteúdo que o Ministério da Educação ofertou para ser trabalhado.

– Não podemos culpar quem escolheu já que não tiveram a prerrogativa de fazer a leitura. Os professores confiam no que um Ministério da Educação oferta para ser trabalhado dentro de uma instituição de ensino – completou.

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