metrópoles Leonardo MeirelesManoela Alcântara
atualizado
Durante duas horas, o ex-sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) Ronnie Lessa depôs em audiência virtual no Supremo Tribunal Federal (STF). E fez diversas revelações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Uma delas tem relação com o que ele receberia pelas mortes. O crime valeria cerca de R$ 50 milhões, valor de dois terrenos prometidos pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão.
Os terrenos, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, iriam para Lessa e Edmílson Oliveira da Silva, o Macalé. Cada terreno custaria por volta de R$ 25 milhões.
“Eu estava louco, encantado com os R$ 25 milhões que a gente ia ganhar. Era o preço pela morte da vereadora, que seria o valor dos terrenos”, contou Lessa.
O ex-sargentou confessou que fez o serviço por ganância.
“Eu nem precisava, realmente. Eu estava numa fase muito tranquila da minha vida. Minha vida já pronta, e eu caí nessa asneira. Foi ganância mesmo. Uma ilusão danada”, disse.
Ronnie Lessa fala de corrupção na polícia
Ele também falou de supostos esquemas de corrupção dentro das polícias Civil e Militar do Rio. E que a maioria dos delegados estaria em maus bocados.
“Não ia ter espaço. Meia dúzia que iria se salvar. Essa é a realidade da Polícia Civil. E não é diferente da PM, não. É a mesma coisa. As polícias no Rio de Janeiro estão contaminadas há décadas”, afirmou Lessa.
O autor do crime contra Marielle Franco ressaltou que, quando os inquéritos eram exclusivamente em papel, era preciso somente pagar R$ 50 mil aos policiais civis “sumirem” com eles.
No depoimento ao STF, ele também detalhou a influência dos irmãos Brazão dentro da polícia do Rio.
“Porque a corrupção tá em todas as esferas, pô! Então, simplesmente, o delegado não quer fazer o que eles querem, tira ele, pô! É assim que funciona. E eles, na verdade, deixa eu só concluir aqui, eles, na verdade, tanto o Chiquinho quanto o Domingos, eles próprios têm essa bagagem. Eles mesmos botam e tiram o delegado de onde quiserem”.
Depoimento sem os irmãos Brazão
Na abertura da audiência, o advogado de Lessa, Saulo Carvalho, pediu que todos os outros réus deixassem a videoconferência, e não acompanhassem a declaração.
Somente os advogados dos réus estiveram presentes na audiência.
O pedido foi aceito pelo juiz Airton Vieira, auxiliar do STF e que preside a audiência.
Esta seria a primeira vez que Lessa prestaria depoimento diante da presença, mesmo virtual, de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE); Chiquinho Brazão, deputado federal; Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil do RJ; Ronald Paulo Alves Pereira, major da PM do Rio; e Robson Calixto Fonseca, o Peixe, PM e assessor de Brazão no TCE.
“Havia um pacto de silêncio, e gostaria que isso fosse respeitado. É tudo muito delicado. Não estamos lidando com pessoas comuns. São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. São muito perigosos (os réus), mais do que se possa imaginar”, alegou Lessa.
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