metrópoles Maria Eduarda PortelaMariah AquinoGabriel Buss
atualizado
A tensão interna dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) se intensificou na última semana, depois do bate-boca público entre a presidente da sigla, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O desentendimento teve como pano de fundo o resultado do PT nas eleições municipais.
O episódio escancarou a divergência sobre a estratégia de comando do partido e as desavenças na atuação dos membros da Esplanada dos Ministérios.
Levantamento do Metrópoles indica que o PT conquistou 252 prefeituras, dos 5.520 municípios que tiveram os resultados das urnas eletrônicas oficializados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), considerando o primeiro e o segundo turno.
Na segunda-feira (28/10), logo após o segundo turno das eleições municipais, a presidente do PT indicou que, desde 2013, o partido sofre com uma crise política, que resultou no impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
“Uma crise que ainda tem seus efeitos hoje, embora já tenha arrefecido um pouco o que foi em 2020, quando tinha muito mais ação contrária à nossa liderança, inclusive de violência física. Ainda assim, a gente sente muito essa desconstrução do partido. Por isso que, na nossa avaliação, há um processo de reconstrução do partido nas eleições municipais”, indicou Gleisi.
A deputada federal pelo Paraná foi eleita para presidente do PT em 2017, ao conquistar 62% dos votos dos delegados do partido. Em segundo lugar, ficou Lindbergh Farias (RJ), com 38%.
Sem citar a gestão de Gleisi, Padilha afirmou que o PT está no “Z4” nas eleições municipais desde 2016, ao fazer alusão à zona de rebaixamento do campeonato brasileiro.
“Desde 2016, o PT entrou no fim da tabela do Z-4 das eleições municipais. Mesmo com os avanços que teve hoje, não saiu ainda dessa posição de fim da tabela. Foi o terceiro partido que mais cresceu em número de prefeituras, terceiro que mais aumentou população governada, aumentou muito número de votos para prefeito e vereadores, mas não saiu ainda dessa situação”, disse.
A declaração do ministro das Relações Institucionais não repercutiu bem dentro do partido – que, inclusive, realizava uma reunião na Executiva Nacional para discutir os resultados das eleições municipais.
“Padilha devia focar as articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados. Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam”, escreveu Gleisi no X.
O Metrópoles conversou com membros do partido que estiveram na reunião da Executiva e elencaram que um dos pontos negativos nas eleições municipais foi a dificuldade de comunicação dentro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dos principais atritos foi a dificuldade de comunicar a população sobre as entregas feitas pela gestão petista, como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida.
Comunicação
Para interlocutores, a dificuldade de informar a população sobre as benfeitorias realizadas pelo Executivo federal atrapalham a promoção de candidatos petistas, que poderiam utilizar a imagem do governo Lula como trampolim político.
A jornalistas Gleisi indicou que ter a máquina federal não garante vitória nas eleições municipais, mas o impasse no momento de entrega poderia auxiliar na construção de candidaturas para prefeitos.
“É óbvio que, por ter a Presidência da República, havia uma expectativa de o PT ter números maiores do que tem. Eu diria que até uma expectativa mais externa do que interna. Mas havia essa expectativa. E isso mostra que o fato de você ter o governo federal não quer dizer que você vai ter vitórias nas eleições municipais. Assim como você ter a maioria dos prefeitos nos municípios não significa que você vai ser derrotado nas eleições nacionais”, enfatizou a presidente do PT.
Vale destacar que Lula venceu o pleito nacional em um momento de fraqueza do PT nas disputas municipais.
Desde o embate público entre Gleisi e Padilha, o ministro das Relações Institucionais não fez mais manifestações públicas.
Toda a discussão tem como pano de fundo a sucessão de Gleisi Hoffmann. O pleito está previsto para os primeiros meses do ano que vem, mas até lá há muita discussão de um possível novo presidente do PT vindo do Nordeste, com o objetivo de desenvolver uma estratégia para conquistar mais cargos em 2026.
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