Um relatório técnico divulgado pelo site do jornalista Cláudio Dantas detalhou uma operação de propaganda digital em grande escala, com indícios de ação coordenada e artificial, para defender o governo Lula durante a crise diplomática com os Estados Unidos.
A análise de 1,66 milhão de postagens na plataforma X (antigo Twitter) identificou uma rede de contas que produziu um volume anormal de conteúdo para reduzir críticas ao petista e direcionar ataques contra a oposição.
Entre os dias 9 e 14 de julho, 149.850 usuários distintos geraram 1,66 milhão de publicações com frases de apoio ao governo, como “ESTAMOS COM LULA” e “BOLSONARO TAXOU O BRASIL”. Desse total, um grupo seleto de apenas 1.000 perfis, chamados de “superpublicadores”, foi responsável por 515.270 posts – o equivalente a 31% de toda a atividade analisada.
Alguns usuários, como @GilsonAraj90635 (5.641 posts) e @ZATANGOIES (5.149 posts), alcançaram picos de uma publicação a cada 1,4 segundos, um padrão considerado impossível para um comportamento humano orgânico.
A campanha ocorreu após a imposição de tarifas de 50% por parte de Donald Trump, em resposta a decisões da política externa de Lula. Na época, o governo brasileiro registrava uma rejeição de 50,3%, segundo dados da AtlasIntel.
A eficácia de campanhas de desinformação ou de propaganda digital não residiu apenas no conteúdo das mensagens, mas na arquitetura de sua disseminação. A análise dos dados da campanha petista aponta uma estrutura industrial, projetada para simular apoio orgânico em larga escala por meio da concentração de atividade em um pequeno número de contas hiperativas e da utilização de padrões de publicação que sugerem automação.
A operação parece ter sido desenhada não para convencer, mas para dominar o ambiente informacional, criando uma percepção distorcida do debate público.
Em vez de debater as causas da crise tarifária, ligadas às opções de política externa do governo, a máquina de propaganda criou uma contranarrativa simples, de forte apelo emocional e factualmente questionável: a culpa pela taxação era do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados.
A nuvem de termos e as frases mais repetidas, que constam no relatório, são dominadas por slogans como “BOLSONARO TAXOU O BRASIL”, a hashtag “#BOLSOTAXA”, e a acusação genérica de “TRAIDORES DA PATRIA”. As capturas de tela dos posts dos “superpublicadores” demonstram a repetição incessante e coordenada dessas mensagens, disseminadas por meio de retuítes em massa e publicações idênticas.
Um usuário genuíno, mesmo que politicamente engajado, tende a ter um padrão de publicação mais distribuído ao longo do dia, intercalado com outras atividades. As “rajadas”, ao contrário, sugerem uma estrutura que é ligada com o propósito de impulsionar uma hashtag ou uma narrativa específica até que ela atinja os trending topics, e depois é desligada até a próxima missão.
É, claramente, o verdadeiro Gabinete do Ódio em ação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário