O Hamas mobiliza forças de segurança contra grupos armados rivais na Faixa de Gaza, provocando confrontos violentos e execuções públicas. A ação ocorre após a retirada das tropas israelenses e o estabelecimento do cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos nesta quarta-feira (15). O grupo terrorista, enfraquecido pelo conflito, busca reafirmar seu domínio no território palestino.
Um confronto entre o Hamas e a família Doghmosh deixou dezenas de mortos no domingo (12) nas proximidades de um hospital na cidade de Gaza. Membros armados e mascarados do grupo terrorista cercaram o hospital jordaniano, exigindo a entrega de dez integrantes da família acusados de colaboração com Israel.
"Eu ouvia tiros por todos os lados, confrontos intensos", relatou uma testemunha que presenciou os enfrentamentos. "A área agora está completamente cercada por homens armados e mascarados", acrescentou sobre a situação no entorno do hospital, onde vídeos mostram execuções públicas.
A família Doghmosh, rival do Hamas desde 2007, quando o grupo assumiu o controle da Faixa, divulgou nota na segunda-feira (13) acusando o grupo terrorista de promover uma campanha de intimidação e violência. As tensões se concentram entre grandes clãs familiares, que representam cerca de 30% da população de Gaza.
Khaled Qaddoumi, representante do Hamas no Irã, confirmou ao Wall Street Journal a mobilização de forças subordinadas ao Ministério do Interior.
"O Hamas está percebendo as responsabilidades patrióticas e nacionais depois da guerra para espalhar o senso de paz e estabilidade", declarou ao jornal americano.
A unidade especial Rada'a, vinculada ao Hamas, anunciou ter assumido posições estratégicas anteriormente ocupadas por rivais em diferentes regiões da Faixa.
"A força Rada'a está determinada a impor a ordem e erradicar gangues e milícias e atacará com punho de ferro qualquer um que interfira na segurança da retaguarda", afirmou em comunicado oficial.
Hasan Abu Hanieh, analista especializado em movimentos islâmicos, avaliou a situação ao WSJ:
"O Hamas está restabelecendo o controle. O Hamas será ainda mais agressivo agora para provar ao mundo exterior que ninguém pode removê-lo, que nenhuma força pode desafiá-lo".
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu na segunda-feira (13) que o envio das forças do Hamas para restabelecer a ordem ocorreu com consentimento internacional.
"Eles foram abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período", declarou.
No dia seguinte, Trump reafirmou:
"Eles vão se desarmar. E, se eles não se desarmarem, nós os desarmamos".
A escalada da violência interna gera temores de uma guerra civil entre a população.
"Eles têm medo de uma guerra civil. Isso é muito perigoso. Já começou", alertou um especialista ao WSJ.
Outro observador acrescentou:
"Embora o Hamas esteja muito mais fraco do que há dois anos, eles não vão desistir e vão desmantelar esses grupos".
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1,2 mil pessoas em Israel, principalmente civis, incluindo idosos, crianças e bebês. Na ocasião, 251 pessoas foram sequestradas. Todos os reféns vivos foram libertados, restando a devolução de 25 corpos para Israel.
A credibilidade do Hamas deteriorou-se desde o ataque. O bloqueio israelense à ajuda humanitária e a destruição da infraestrutura afetaram as receitas do grupo. Famílias e outros grupos armados começaram a desafiar o poder do Hamas, buscando conquistar influência em suas regiões.
Israel tentou explorar essas divisões internas, atraindo famílias para desafiar o domínio do Hamas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu confirmou apoio ao grupo Abu Shabab. As Forças de Defesa de Israel não se manifestaram oficialmente sobre o caso. Analistas militares israelenses apontam a Autoridade Palestina como única alternativa viável ao Hamas para governar Gaza.
A Autoridade Palestina, que administra partes da Cisjordânia, observa os desdobramentos em Gaza. Netanyahu mantém posição contra qualquer presença do Hamas no território após o conflito. O primeiro-ministro israelense rejeita a possibilidade da Autoridade Palestina assumir o controle de Gaza.
A ofensiva do Hamas não se limitou aos Doghmosh. O grupo direcionou suas forças contra a família Abu Samra, provocando novos embates em Deir al-Balah. Antes do cessar-fogo, confrontos com a família Al Majaydeh já haviam resultado em numerosas vítimas fatais.
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