Moraes enfim encontrou pela frente um ‘cachorro grande’ e ‘perspicaz’.
“Não está acostumado a isso. Desde que transformou o Sistema Judiciário do Brasil numa delegacia de polícia que não obedece à lei, mas só a ele, não presta contas a nenhuma autoridade legal do país e persegue adversários políticos e eleitorais com cadeia, multas e censura, Moraes só lida com gente que tem medo dele.”
E prossegue o texto:
“Mas acabou incomodando Elon Musk, um dos maiores, mais criativos e mais talentosos empresários do mundo de hoje — e Musk não tem o menor medo de Alexandre de Moraes, ou do Supremo inteiro, ou de qualquer tipo de jornalista da Globo. Resultado: acaba de chamar Moraes, perante o mundo inteiro, de ditador, e de provar que ele é um ditador mesmo. O ministro já foi chamado disso umas 500 vezes, e com todas as letras, aqui dentro do Brasil. Mas agora quem está falando é Elon Musk. Quem está ouvindo é o mundo. Faz toda a diferença.”
Musk efetivamente é um duro adversário, coisa que o ministro não conhecia.
“Musk não é o morador de rua que Moraes manteve preso durante 11 meses inteiros, nem os advogados a quem ele manda calar a boca.”
Quem é o bilionário?
“Elon Musk, em suma, é um homem com ideias, sem nenhuma preocupação em fingir nada e com US$ 300 bilhões no bolso — uma combinação perigosa para quem manda no Brasil como ele é hoje. Musk olha para si, olha para Moraes e tem certeza imediata de quem é mais e de quem é menos. É natural para ele, diante dessa constatação, fazer o que na sua opinião está certo — e não o que a democracia do STF, a esquerda e a maioria dos jornalistas acham que o resto da humanidade têm de fazer.”
Moraes não conhecia um homem assim.
“Moraes, na verdade, nem conhece gente assim hoje em dia. Acabou se acostumando a ver os presidentes do Senado e da Câmara, generais três estrelas e os advogados da OAB, mais todos os gatos gordos da vida pública e privada, se colocarem de joelhos na sua presença — e acha que todo mundo é igual. Assim fica fácil.”
E quem Moraes condena?
“O ministro tem, por sinal, uma distinção pouco notada: só põe na cadeia, e condena a até 17 anos de prisão, gente pobre, sem influência nenhuma, sem amigos na primeira classe, sem crachá. É só ver a lista dos condenados como inimigos da democracia. Tem barbeiro, tem índio, tem motoboy; tem até deputado sem mandato, mas magnata, mesmo, não tem nenhum. Aparece, de repente, um Elon Musk. Aí fica difícil.”
A resposta de Moraes.
“O ministro e o STF se habituaram a duas reações automáticas diante de qualquer crítica sobre a ditadura judicial que impuseram no Brasil, em favor de um presidente da República condenado por corrupção passiva e por lavagem de dinheiro: ignorar o que ouvem ou prender quem fala. Com Musk não dá para ignorar — o mundo inteiro ficou sabendo o que ele disse. Também não dá para prender, nem colocar tornozeleira, nem apreender o seu passaporte ou pedir a sua extradição. O resultado desse xeque-mate foi uma resposta neurastênica, cômica e absolutamente tola. Moraes, em mais um episódio de anedota, incluiu Musk como ‘investigado’ por suspeita de ‘obstrução criminosa da Justiça’ e de ‘incentivo ao crime’ no inquérito que conduz há cinco anos para investigar ‘milícias digitais’, ‘desinformação’, fake news e sabe Deus o que mais.”
A conclusão:
“É de se imaginar, ao mesmo tempo, o espanto e as gargalhadas com que os juristas americanos vão receber o ‘indiciamento’ de Musk. Não vão conseguir entender como alguém pode ser investigado por um inquérito perpétuo, ou ser acusado pelo próprio juiz que vai julgar a ofensa — num manifesto que contém frases escritas em letras maiúsculas e pontos de exclamação, como numa dissertação de curso primário. É um desafio, enfim, decifrar o que o ministro Barroso quis dizer em sua bula sobre o tema. O presidente do STF ensinou que, quando alguém discorda de uma decisão judicial, o caminho correto é apelar da sentença, e não se recusar a cumprir o que foi decidido. Apelar para quem? Na Justiça brasileira de hoje, Elon Musk e o resto da espécie humana só podem apelar a Moraes das decisões que foram dadas por Moraes. Em que lugar do mundo isso pode ser considerado normal? É essa a democracia que está sendo ‘ameaçada’ pelo ‘bilionário estrangeiro’. Ainda bem que ele é bilionário, estrangeiro e pode viver num país sujeito à lei.”