domingo, 4 de agosto de 2024

Opositora reaparece na Venezuela e Maduro denuncia plano para 'usurpar' o poder

AFP

A líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, acena do alto de um caminhão durante uma manifestação contra os resultados da eleição presidencial em Caracas, em 3 de agosto de 2024© Yuri CORTEZ

"Nunca estivemos tão fortes!": a líder opositora María Corina Machado reapareceu e liderou neste sábado uma grande manifestação contra a proclamação de Nicolás Maduro presidente reeleito da Venezuela, em um dia em que milhares de chavistas foram às ruas em apoio ao presidente esquerdista.

Maduro denunciou hoje um plano para "usurpar" o poder. Milhares de chavistas saíram às ruas em defesa da sua vitória, quase uma semana após as eleições de 28 de julho, questionada pelos Estados Unidos e por vários países da região.

O presidente esquerdista insiste em que as acusações de fraude fazem parte de um plano de golpe de Estado contra ele, e alertou que “não se aceitará, com as leis nacionais, que se pretenda usurpar novamente a Presidência", referindo-se ao reconhecimento internacional que Juan Guaidó recebeu em 2019.

Venezuela tem dia crucial de manifestações© Suzane OLIVEIRA

- 'Perderam toda a legitimidade' -

Apesar do medo de repressão, milhares de opositores reuniram-se hoje em Caracas, onde María Corina reapareceu, dois dias depois de anunciar que ocultaria seu paradeiro por motivo de segurança, após Maduro pedir a prisão da opositora e do representante dela na eleição, Edmundo González Urrutia.

Apoiadores de Maduro saem em passeata na capital venezuelana© Pedro Rances Mattey

“Liberdade, liberdade!”, gritaram milhares de opositores no leste de Caracas, enquanto María Corina passava no alto de um caminhão.

"Estamos defendendo a soberania popular por meio do voto!", disse a opositora, 56, que vestia uma camiseta branca. "Nunca o regime esteve tão fraco. Eles perderam toda a legitimidade. Não vamos sair das ruas", proclamou.

Após o ato, María Corina deixou o local em uma moto, que partiu em alta velocidade.

"Sinto esperança quando a vejo, apesar das ameaças, sinto que ela é uma luz para a Venezuela. Tenho muita fé que vamos sair desse governo. Não haverá mais miséria. Vamos prosperar", disse à AFP Adrian Pacheco, um comerciante de 26 anos.

A oposição organizou manifestações semelhantes em outras cidades do país, nos Estados Unidos e na América Latina e Europa.

"Maduro é ilegítimo. Não somos terroristas, estamos lutando pelo nosso país, pela liberdade", disse Jezzy Ramos, chef de cozinha de 36 anos, casada e mãe de uma filha.

- Chavistas -

A passeata do chavismo foi até o centro de Caracas, onde fica o palácio presidencial. A manifestação reuniu milhares de pessoas - a maioria vestida de vermelho -, que carregavam bandeiras e faixas.

“Temos que vir defender a vitória do nosso presidente legítimo, Nicolás Maduro”, disse o ator Raúl Díaz, 35. "Estamos no começo de uma nova era, a era da consolidação da Revolução, a era do bem-estar”, afirmou o professor universitário Alí García, 69.

Maduro foi ratificado ontem pelo Conselho Nacional Eleitoral como presidente reeleito, e acusa os líderes da oposição de tentarem dar um golpe de Estado.

Com 11 civis mortos desde o início dos protestos espontâneos, na segunda-feira, em rejeição ao anúncio da reeleição de Maduro, e mais de mil presos, os líderes da oposição limitaram suas aparições públicas nos últimos dias.

Na sexta-feira, o líder da oposição e jornalista Roland Carreño, que já havia ficado preso entre 2020 e 2023 por acusações de "terrorismo", foi detido novamente, conforme denunciado por seu partido Voluntad Popular, de Juan Guaidó e Leopoldo López.

De acordo com o Ministério Público, um militar também foi morto durante os protestos.

- Provas de fraude -

A oposição diz ter provas de fraude, e apresenta um site com cópias de mais de 80% das atas de votação em seu poder. O chavismo alega que os documentos são falsos. Segundo a oposição, González Urrutia recebeu 67% dos votos.

Ontem, em poucas horas, cinco países latino-americanos - Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá - reconheceram a vitória de González Urrutia. O Peru havia sido o primeiro, na terça-feira.

Maduro agradeceu aos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Colômbia, Gustavo Petro; e do México, Andrés Manuel López Obrador, por seus esforços em prol de um acordo político na Venezuela. Entre os países que reconhecem Maduro estão Nicarágua, Rússia e Irã.

bur-nn-jt/mar/dd/jb-lb

Por que Maduro está cada vez mais isolado na América Latina

DW Brasil

Venezuelano é pressionado também por governos latino-americanos de esquerda após se autodeclarar reeleito sem escrutínio do resultado. Países agem mais por questões democráticas do que ideológicas, dizem especialistas.

Apoiadores da oposição voltaram às ruas dias após repressão violenta de protestos contra© Matias Delacroix/AP/picture alliance

Ao apoio que os regimes autoritários de Cuba e Nicarágua deram a Nicolás Maduro na Venezuela não se somaram muitos outros na América Latina. Honduras e Bolívia felicitaram o líder chavista, mas, diante das críticas da oposição, o governo de La Paz justificou ter agido apenas por respeito ao protocolo.

Já o Peru foi o primeiro a reconhecer a vitória eleitoral do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, sendo depois seguido por Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá.

Maduro também está sob pressão de outros países – inclusive os comandados por governos de esquerda, como Chile, Colômbia, Brasil e México –, que exigem a publicação de todas as atas eleitorais e o escrutínio das contagens. Passados seis dias desde a eleição, realizada em 28 de julho, esses documentos ainda não foram apresentados por Caracas.

A oposição afirma que González tem 67% dos votos. Já o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado pelo regime chavista, alega que Maduro venceu com 51% dos votos contra 44% do opositor.

A dúvida sobre os resultados alardeados por Maduro também não vem só desses países. A ONG Centro Carter, uma das poucas entidades independentes que puderam acompanhar precariamente o pleito, constatou violações não só na contagem e divulgação dos votos, mas também ao longo de todo o período que precedeu a votação, com tolhimento do direito ao voto e perseguição da oposição.

Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e estrangeiros a partir de atas eleitorais reunidas pela oposição também aponta vitória de González, com 66,1% dos votos. Já uma análise da agência de notícias Associated Press do mesmo material conclui que a oposição venceu por vantagem "significativa", com 6,89 milhões de votos contra 3,13 milhões de Maduro.

"Divisão saudável" da esquerda

Historiador e professor da Universidade de Lima, Daniel Aurelio Parodi vê a esquerda dividida em todo o mundo; enquanto uma "se manteve radical, pseudomarxista, autoritária", outra se voltou mais para a social-democracia e para agendas culturais progressistas. Esse fenômeno, segundo ele, também ocorre na América Latina.

"O que está acontecendo com a Colômbia de [Gustavo] Petro; com Lula, no Brasil; com [Gabriel] Boric, no Chile, que teve um papel de muito protagonismo, é que estão sinalizando distância do regime autoritário de esquerda de Nicolás Maduro", analisa. "Estamos diante de uma divisão saudável, parece-me, da esquerda latino-americana. A maioria dos países de esquerda, que são de esquerda democrática, estão se somando aos países liberais democráticos, de outra ideologia, que estão condenando tanto a ditadura de Maduro quanto a aparente fraude eleitoral."

"Postura é guiada menos por afinidade ideológica e mais por defesa da democracia"

Diretor do Grupo de Estudos da Democracia da Universidade do Rosário, na Colômbia, Yann Basset diz que a atitude do regime venezuelano obriga esses países a assumirem posições baseados na defesa dos princípios democráticos. "Mas há matizes", ressalta.

O especialista diz que é difícil defender um regime que não abriu os resultados eleitorais e se autoproclamou vencedor mesmo assim. "Isso não é justificável sob nenhum padrão de eleições democráticas. Por isso, os únicos países que reconheceram a vitória de Maduro são países autoritários ou semi-autoritários", explica.

Basset vê a postura de países latino-americanos críticos ao processo eleitoral norteada mais por "uma lógica de regime democrático contra autocracia, e não tanto de afinidade ideológica". Tanto que, aponta, entre os que adotaram uma posição mais firme há governos de direita, como Argentina e Uruguai, e de esquerda, como Chile – apesar de governos de esquerda terem sido mais cautelosos.

O presidente chileno Gabriel Boric foi uma das vozes críticas da esquerda a levantar dúvidas sobre o© Sebastian Ibanez/Presidencia Chile/dpa/picture alliance

Mas Basset pondera que governos latino-americanos nem sempre são tão consistentes em sua defesa da democracia na região. Ele cita como exemplo o caso de El Salvador, país governado por Nayib Bukele, acusado de encarcerar inocentes, perseguir críticos e minar o Estado de Direito.

"El Salvador é apoiado por governos de direita, sem [que isso gere] preocupações com os direitos humanos e com os problemas que surgem do ponto de vista da democracia. Acho que ainda há cálculos políticos e afinidades ideológicas que se manifestam claramente nas reações dos governos latino-americanos diante desses tipos de acontecimento."

"Novo cenário é mais de embate entre conservadores e progressistas que entre direita e esquerda"

Parodi, da Universidade de Lima, analisa o fenômeno no contexto global: "Parece-me, com ou sem Maduro, que está se configurando um novo cenário onde conservadores e progressistas se enfrentam, mais do que os antigos direitistas e esquerdistas do século 20."

E a esquerda progressista, ressalta o historiador, pende para a democracia. "É o mundo pós-Guerra Fria, onde caiu o socialismo real da União Soviética; um mundo em que a China decidiu ser politicamente autoritária, mas economicamente capitalista; [um mundo] em que o espaço das esquerdas radicais, das esquerdas autoritárias, se reduz muito na América Latina."

O problema é, afirma Parodi, é que "ambas as posturas, conservadora e progressista, têm muito pouca vocação para o diálogo". "A polarização política é um fenômeno mundial. Estamos ficando sem esse centro em que se respeita a posição do outro, esse centro em que o republicanismo e a democracia são bandeiras."

O impacto na América Latina

Por enquanto, a crise continua na Venezuela. Protestos têm sido duramente reprimidos por Caracas, e a oposição enfrenta intimidações e ameaças. Neste sábado (03/08), a líder oposicionista María Corina Machado juntou-se a manifestantes na rua, mas González, que pela contagem deles venceu o pleito, não. Emissários de Maduro já clamaram pela prisão da dupla, e alguns funcionários que atuaram na campanha buscaram abrigo em embaixadas estrangeiras.

Três perguntas pairam no ar, afirma Parodi, da Universidade de Lima. "Maduro vai se manter no poder desta vez? Caso sim, haverá uma segunda onda migratória? Em tal caso, o que os países da região vão fazer com uma migração tão massiva?"

Outrora uma das mais prósperas nações do continente, a Venezuela, país rico em petróleo, viu sua economia derreter e perdeu quase um terço de sua população na última década. Mais de 7,7 milhões abandonaram o país desde 1999, mas a maior parte dessa migração ocorreu durante o governo de Maduro, que culpa as sanções dos Estados Unidos pela decadência nacional.

"Para a Colômbia seria um retrocesso especialmente complicado. O governo colombiano apostou muito em uma normalização das relações com a Venezuela", diz Yann Basset, da Universidade do Rosário.

É na Colômbia que se assentaram a maioria dos refugiados venezuelanos: 2,9 milhões, segundo dados reunidos em 2023 pela Anistia Internacional.

"Se Maduro ao fim conseguir ficar, vai radicalizar sua postura e deixar a oposição um pouco contra a parede. Não há canais de participação nem de diálogo político", pontua Basset.

O historiador Parodi também não se mostra muito otimista, e conta com um endurecimento ainda maior do regime. "Na América Latina costumamos dizer que as ditaduras se tornam mais repressivas quando se aproximam do fim. Adotam posições defensivas e são absolutamente intolerantes porque se sentem cercadas. A expulsão de sete embaixadores e a ruptura possivelmente ainda maior de relações internacionais nos mostra uma Venezuela quase órfã internacional... É um contexto muito complicado, o que se avizinha."

Com informações de Emilia Rojas Sasse

ra (DW, ots)

CBF toma decisão após suspensão de Marta na semifinal das Olimpíadas

Lance!

Imagem da notícia© Lance! Media Group

A CBF acionou seu departamento jurídico para tentar reverter a decisão que suspendeu Marta da semifinal das Olimpíadas, segundo o site "ge". De acordo com a publicação, no entanto, a entidade ainda não recebeu uma resposta do Comitê Disciplinar da Fifa, órgão que julgou a camisa 10 da Seleção Brasileira.

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Marta foi expulsa na última partida da fase de grupos do torneio, diante da Espanha, após entrada dura sobre Olga Carmona. Como de costume, a Rainha cumpriu a suspensão automática no duelo decisivo deste sábado (3), pelas quartas de final da competição, diante da França - vitória brasileira por 1 a 0.

Entretanto, pouco após a partida a informação de que o Comitê Disciplinar da Fifa ampliou a suspensão da jogadora se tornou pública. A decisão da entidade máxima do futebol é amparada pelo artigo 14.1 de seu código disciplinar.

Assim, caso a CBF não consiga reverter a decisão tomada neste final de semana, Marta não poderá entrar em campo no duelo decisivo diante da Espanha, marcada para terça-feira (6) às 16h (hora de Brasília). Neste cenário, um eventual retorno da jogadora ao time de Arthur Elias só aconteceria na decisão ou na disputa de terceiro lugar.

ARMAZÉM PARAÍBA, SUCESSO EM QUALQUER LUGAR.

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