Israel eliminou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na sexta-feira (27.09), em Beirute, no Líbano. Operação está a ser condenada por países da região, inclusivamente pelo Presidente da Turquia, que fala em genocídio.

Israel afirma ter eliminado o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, num ataque aéreo em Beirute© Vahid Salemi/picture alliance/AP

A Comissão Europeia e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA) aconselharam este sábado (29.09) as companhias aéreas a "não operarem" no espaço aéreo do Líbano e de Israel.

"A Comissão Europeia e a EASA decidiram emitir Boletins de Informação sobre Zonas de Conflito (CZIB), recomendando a não operação no espaço aéreo libanês e israelita a todos os níveis de voo", afirmaram. A recomendação está em vigor até 31 de outubro e pode ser revista, adaptada ou retirada na sequência de uma "análise de avaliação revista", segundo a agência espanhola Europa Press.

A AESA sublinhou que está a "acompanhar a situação" na região e as consequências para a aviação civil do confronto militar entre Israel e o Hezbollah. Constata-se uma "intensificação dos ataques aéreos" e a "degradação da situação de segurança", assinalou.

O aviso acontece na sequência do anúncio de Israel, que afirma que matou o líder do grupo xiita libanês Hezbollah na tarde de sexta-feira durante um bombardeamento contra o quartel-general da milícia, supostamente localizado sob edifícios residenciais nos subúrbios de Beirute.

Ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant (à esquerda), no centro de comando da operação que culminou com a morte de Hassan Nasrallah© Israel's Ministry of Defense/Xinhua News Agency/picture alliance

O grupo xiita libanês Hezbollah confirmou este sábado a morte de Hassan Nasrallah. "A sua eminência Sayyed Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, juntou-se aos seus grandes e imortais mártires", anunciou o grupo em comunicado.

A operação comandada pelo poder em Telavive acontece na sequência da intensificação dos ataques do grupo terrorista libanês contra território israelita.

Turquia fala em genocídio

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou Israel de promover "um genocídio" no Líbano e criticou os "ataques brutais" contra o Hezbollah que causaram a morte de centenas de civis.

"O Líbano e o povo libanês são o novo alvo da política de genocídio, ocupação e invasão levada a cabo por Israel desde 07 de outubro", afirmou o presidente turco numa mensagem publicada na rede social X.

O Irão assegurou que o caminho do líder máximo do grupo xiita libanês Hezbollah, Hassan Nasrala, vai continuar após a sua morte. "O caminho glorioso do líder da resistência Hassan Nasrallah vai continuar e o seu objetivo sagrado de libertar Jerusalém será realizado, se Deus quiser", escreveu o porta-voz da diplomacia iraniana, Naser Kanani, nas redes sociais.

Ataques aéreos israelitas provocaram cerca de 1.000 mortos em apenas cinco dias© Hussein Malla/AP Photo/picture alliance

Anteriormente, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, tinha apelado ao mundo muçulmano para apoiar o Hezbollah no confronto com Israel, numa mensagem sem qualquer referência a Nasrallah.

"É obrigatório para todos os muçulmanos apoiar orgulhosamente o povo libanês e o Hezbollah com os seus recursos e ajudá-lo a enfrentar o regime usurpador, cruel e maléfico [de Israel]", afirmou Khamenei, numa mensagem divulgada pela agência oficial Irna.

O Irão lidera e financia o chamado "eixo de resistência" contra Israel, que inclui o Hezbollah, o Hamas palestiniano e os huthis do Iémen, além de outros grupo extremistas.

O Hezbollah também declarou que vai continuar a "guerra santa" contra Israel, apesar da morte de Nasrallah.

Hamas reage

O grupo islamita palestino Hamas enviou este sábado as suas condolências pela morte do líder do grupo xiita libanês Hezbollah e condenou a "bárbara agressão" de Israel contra o Líbano e seus ataques a edifícios residenciais ao longo desta semana.

"Estendemos as nossas mais sinceras condolências, simpatia e solidariedade ao irmão povo libanês e aos irmãos do Hezbollah e da Resistência Islâmica no Líbano", disse o Hamas em comunicado.

No texto, o Hamas lembrou que "o sangue puro" derramado no Líbano, onde na última semana mais de 1.000 pessoas morreram nos bombardeamentos israelitas, segundo dados do Ministério da Saúde libanês, é consequência do apoio ao povo e à resistência palestina e disse que está misturado com o sangue dos "mártires" de Gaza e da Cisjordânia ocupada.

Líbano evacua hospitais

As autoridades do Líbano estão a preparar-se para evacuar os hospitais localizados nos subúrbios do sul de Beirute, após a intensa onda de bombardeamentos israelitas.

Vista sobre Beirute, que tem estado debaixo de fogo das tropas israelitas que tentam dizimar o Hezbollah© Hussein Malla/picture alliance/AP

O Ministério da Saúde Pública, que ainda não apresentou um número de vítimas nestes últimos ataques matinais, fez um apelo aos "hospitais em Beirute, Monte Líbano e áreas não afetadas pela agressão israelita” para que deixem de tratar casos não urgentes pelo menos até o final da próxima semana.

"É para permitir a receção de pacientes dos hospitais dos subúrbios do sul de Beirute, que serão evacuados devido ao desenvolvimento da agressão”, anunciou o departamento governamental líbanês em comunicado.

"O Ministério também pede aos hospitais e centros de saúde para que se preparem para prestar cuidados aos pacientes deslocados durante a noite dos subúrbios, pois prevê-se que suas responsabilidades e tarefas se intensifiquem com o aumento do número (de pessoas deslocadas)”, acrescentou a nota.

Desde a última guerra entre Israel e o seu grupo, em 2006, o poderoso líder do Hezbollah vivia escondido, mas, na sexta-feira, o exército israelita conseguiu localizar e matar Hassan Nasrallah.

Inimigo declarado de Israel, raramente aparecia em público desde a guerra de 2006, e o seu local de residência era mantido em segredo, segundo a agência francesa AFP. Recebeu, no entanto, visitas, incluindo os dirigentes de grupos palestinianos aliados ao Hezbollah, que publicaram fotografias dos encontros.

Ataques israelitas durante esta semana no Líbano provocaram onda de deslocados em várias regiões do sul do país© Mohammed Zaatari/AP Photo/picture alliance

Jornalistas e figuras públicas que se encontraram com Nasrallah afirmam ter sido levados em carros com cortinas negras e com medidas de segurança reforçadas, para um local não identificável.

Nasrallah fazia regularmente discursos que eram transmitidos em direto, com todo o país a assistir. Era o homem mais poderoso do Líbano, decidindo sobre a guerra ou a paz no país, à frente de uma milícia impressionante e fortemente armada. Este religioso de 64 anos era objeto de um verdadeiro culto de personalidade entre os apoiantes, nomeadamente no seio da comunidade muçulmana xiita. Era o líder carismático do Hezbollah desde 1992, quando sucedeu a Abbas Moussaoui, também ele assassinado por Israel.

Desde então, desenvolveu o Hezbollah, armado e financiado pelo Irão, até se tornar uma força política representada no parlamento e no governo. Ao mesmo tempo, desenvolveu o arsenal do Hezbollah, que diz contar com 100.000 combatentes e armas poderosas, incluindo mísseis de alta precisão.