Com todo o respeito, quantas bundas cabem nesse assento? A julgar pelo número de grupos atacando Israel em nome de uma “causa Palestina” e a julgar pela aparente tolerância ocidental - incluindo o Brasil - por grupos terroristas, precisaríamos também de assentos para o Hamas, Hezbollah, Irmandade Muçulmana, enfim, para cerca de 41 grupos extremistas armados que querem destruir Israel em nome de um “Estado Palestino”. Isso traria paz?
O Brasil parece não entender quantas nuances cabem no rótulo generalizado de “Palestinos”. Há Palestinos genuinamente moderados e pacifistas, mas aparentemente fica cada vez mais difícil encontrá-los. Principalmente quando a aceitação ao terrorismo recompensa grupos extremistas como o Hamas que oprimem a população civil enquanto seus líderes milionários vivem no Qatar.
O Hamas definiu suas políticas em documentos lançados em 1988 e 2017. O texto de 1988 clama pela destruição de Israel, morte a todos os judeus e critica ferozmente o Egito por conviver em paz com Israel.
O documento de 2017 retirou referências à morte de judeus e ao Egito, acrescentando:
“O Hamas acredita que a Palestina sempre foi e sempre será um modelo de coexistência, tolerância e inovação civilizacional”.
Essa maquiagem no texto convenceu muitos ingênuos no Ocidente. Ao mesmo tempo, o texto também diz:
“O Hamas rejeita qualquer alternativa à libertação total e completa da Palestina, do rio ao mar”.
Do rio Jordão ao mar Mediterrâneo. Ou seja, Israel (definido como “projeto sionista”) teria que deixar de existir.
É como se dissessem:
“Não temos nada contra os Italianos, mas a Itália não deveria existir”.
O massacre de 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel, sequestrou, queimou e matou milhares de inocentes, teria sido apenas o primeiro passo. Por essa e outras, países civilizados como Austrália, Canadá, EUA, União Europeia, Japão, Organização de Estados Americanos (OEA) consideram o Hamas um grupo terrorista.
Em maio de 2024 uma maioria esmagadora da Assembleia Geral afirmou que os palestinos mereciam filiação plena. Esse movimento foi vetado pelos Estados Unidos, alegando corretamente que esse reconhecimento requer um acordo de paz. Esse aspecto é fundamental: que tipo de Estado Palestino seria vizinho de Israel? Um país inimigo lançando milhares de foguetes sobre cidades israelenses ou um vizinho pacífico a lucrar com relações econômicas produtivas, conforme estabelecido no plano de partilha aprovado pela ONU em 1947 (Resolução 181)?
Para quem não sabe, essa Resolução aprovou não apenas a criação de um estado árabe e um estado judeu, mas também a criação de uma União Econômica a ser gerida por um Conselho Econômico Conjunto. Não seria maravilhoso ter dois Estados prósperos, um árabe e um judeu, cooperando entre si? Mas o Hamas e outros rejeitam isso.
Muitos querem paz, mas a realidade é complexa. Já tivemos paz? Ou apenas momentos sem guerra, nos quais dividendos de paz momentaneamente superaram dividendos de guerra? Até quando vamos deixar que os dividendos de guerra continuem mais vantajosos na precária balança política do Oriente Médio?
Há pelo menos quatro multiplicadores dos dividendos de guerra:
1) Compensação financeira da Autoridade Palestina para terroristas e suas famílias;
2) Extremismo religioso;
3) Polpudas doações internacionais para a “causa Palestina” vindas do Irã, do Ocidente etc.;
4) O teatro de guerra que o Oriente Médio, junto com a Ucrânia, África etc. representa para testar a indústria bélica global, que movimenta mais de 2 trilhões de dólares por ano.
Ou seja, nunca haverá paz entre Israel e organizações extremistas como Hamas, Hezbollah, Irmandade Muçulmana etc. Além disso, boa parte do Ocidente, incluindo o governo brasileiro, a agenda WOKE infiltrada na ONU, em universidades americanas e na extrema esquerda, colocam radicais islâmicos e palestinos no mesmo patamar, enquanto exaltam a mesma surrada narrativa contra a existência de Israel.
Quero lembrar que o Egito iniciou quatro guerras contra Israel em 1948, 1956, 1967 e 1973. Perdeu todas, finalmente percebendo que ganha mais com a paz do que com a guerra. A incitação anti-israelense ainda é forte na mídia egípcia, mas a paz persiste através de relações benéficas nas áreas de turismo, energia, agricultura e comércio exterior.
De acordo com o Índice de Opinião Árabe do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos Políticos (2019–2020), apenas 13% dos egípcios apoiam o reconhecimento diplomático de Israel, enquanto 85% se opõem.
Isso confirma que pesquisas de opinião revelam mais sobre aspirações individuais do que sobre a realidade. Se for assim, a situação entre Israel e Palestinos seria até melhor.
Um ensaio do Shalem College em Jerusalém compilou cerca de 400 pesquisas realizadas por cinco centros de pesquisa palestinos na Cisjordânia e em Gaza.
A julgar apenas por pesquisas, o cenário nunca levaria à paz. Quatorze das dezesseis vezes que um pacote hipotético de paz foi apresentado aos entrevistados entre dezembro de 2003 e dezembro de 2015, houve mais oponentes do que apoiadores.
Em média, os palestinos rejeitaram os acordos por uma margem de 54 a 44 por cento. Além disso, o apoio diminuiu ao longo do tempo.
A pergunta-chave é: o cérebro sentado na cadeira reservada ao “Estado Palestino” na ONU terá músculos para conter dezenas de movimentos armados extremistas dedicados a uma guerra santa contra Israel e contra o Ocidente?
Qual seria o melhor cenário possível? A boa notícia é que esse cenário já existe parcialmente. A Autoridade Palestina reconhece que as exportações para Israel totalizam 80.6% do total e as importações vindas de Israel totalizam 56.6%. Isso significa que o ideal de cooperação econômica entre Israel e Palestina já acontece, mesmo que por vias tortuosas.
Na área de saúde, de acordo com o Projeto Rozana, uma organização sem fins lucrativos sediada na Austrália que visa conectar palestinos em Gaza e na Cisjordânia com assistência médica adequada, cerca de 100.000 pacientes palestinos recebem tratamento especializado em hospitais israelenses e de Jerusalém Oriental todos os anos, incluindo crianças que necessitam de tratamentos como quimioterapia ou diálise pediátrica.
Israel tem mais de 2 milhões de cidadãos israelenses (mais de 20% da população) classificados como “árabes”, alguns se identificando como palestinos, incluindo drusos, circassianos, árabes cristãos, e armênios. Todos estes se beneficiam da prosperidade de Israel com plenos direitos civis, não fazendo parte de grupos extremistas que lançam foguetes contra Israel.
Como brasileiro, certamente gostaria de ver o Brasil apoiando a paz - o que refletiria a convivência harmoniosa entre árabes e judeus que tradicionalmente sempre existiu no país.
Com certeza uma solução de dois Estados, Israel e Palestina, convivendo em paz seria desejável, mas isso nunca será possível negociando com aqueles que lucram tanto com a guerra ou com fanáticos que apenas enxergam a paz dos cemitérios por meio de uma guerra santa que significa na prática a destruição de Israel.
Se for assim, Israel não terá escolha: o único caminho possível para a paz será continuar vencendo todas as guerras, independente de quantas cadeiras votem contra sua existência na ONU.
Jonas Rabinovitch. Arquiteto urbanista com 30 anos de experiência como Conselheiro Sênior da ONU para inovação, gestão pública e desenvolvimento urbano em Nova York.
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